terça-feira, 29 de maio de 2012

Lula contesta ministro e diz que não pressionou Supremo


Ex-presidente se diz indignado com relato de Gilmar Mendes sobre mensalão

Ministro reafirma que petista tentou interferir no caso e fala que atraso no julgamento abre espaço a 'oportunistas'

O ex-presidente Lula negou ontem ter tentado pressionar o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), a adiar o julgamento do mensalão.

Em nota, ele se disse indignado com o ministro e afirmou que o seu relato sobre a conversa que os dois mantiveram em abril, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim em Brasília, é "inverídico".

Segundo reportagem de sábado da revista "Veja", Lula teria dito a Mendes que seria "inconveniente" julgar o caso antes das eleições.

Em troca do apoio ao adiamento, ele teria oferecido proteção na CPI do Cachoeira, que poderia vir a investigar as relações de Mendes com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).

"A reunião existiu, mas a versão da 'Veja' sobre o teor da conversa é inverídica", diz texto da assessoria de Lula.

A nota afirma que o ex-presidente "jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria-Geral da República em relação à ação penal do chamado mensalão".

"Meu sentimento é de indignação", diz Lula no texto.

Lula quebrou o silêncio à noite, cerca de duas horas após o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, fazer uma cobrança pública para que ele se manifestasse sobre o caso.

"O diálogo foi protagonizado por três pessoas. Dois já explicitaram sua interpretação dos fatos. Falta o terceiro", disse Ayres Britto.

À noite, o presidente do STF disse que irá conversar com os outros ministros "olho no olho" para "fazer um levantamento da situação." "Sigo observando".

Jobim, que já havia contestado o relato de Mendes no fim de semana, manteve a negativa em entrevista ao jornal "Zero Hora". "Foi uma conversa institucional, não teve nada nesses termos que a 'Veja' está se referindo."

BLINDAGEM

Também ao "Zero Hora", Mendes reafirmou seu relato, dizendo que Lula falou várias vezes sobre o tema mensalão, insinuando que poderia acionar congressistas aliados para blindá-lo. "Percebi que havia um tipo de insinuação."

À noite, em Manaus, o ministro disse que o próprio Lula pode estar sob pressão.

"Tive ao longo dos anos dezenas de conversas com o presidente, nunca tinha experimentado sensação igual a essa, me parece que ele próprio esteja sobre pressão."

Ele disse que o que o motivou a relatar o encontro com Lula foi quando recebeu informação "de pessoas confiáveis" de que notícias contra ele estavam "sendo plantadas e divulgadas, inclusive com participação do presidente". Aí me preocupou."

Mendes se recusou a comentar o comunicado de Lula, mas disse que o STF está "demorando muito" para julgar o processo do mensalão. "Como nós estamos demorando muito nessa definição, surgem essas infecções oportunistas. E aproveitadores de toda a sorte que vem conturbar o ambiente do tribunal."

Segundo ele, o tribunal passa por uma fase "muito delicada" por ter três ministros recém-nomeados (Rosa Weber, Luiz Fux e Dias Toffoli) e por outros dois estarem próximos da aposentadoria (Ayres Britto e Cezar Peluso).
Folha de São Paulo 29/05/2012

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