sábado, 26 de maio de 2012

Código recomposto

Dilma retalha lei florestal da Câmara com 12 vetos e vai fazer outras 32 alterações por medida provisória para voltar ao texto do Senado

A presidente Dilma Rousseff optou pela solução mais equilibrada e, em lugar de vetar todo o Código Florestal aprovado na Câmara, aplicou-lhe 12 cortes e anunciou 32 modificações -que virão por meio de medida provisória (MP)- para recompor o texto do Senado.
Não se trata, ainda e lamentavelmente, do ponto final na controvérsia que se inflamou a partir de 2008. A MP terá de ser aprovada pelos mesmos deputados que haviam infligido duas derrotas ao governo, votando uma legislação excessivamente favorável às demandas ruralistas, em detrimento da preservação de florestas.
Com sua demonstração de força, a Câmara -incendiada pelo PMDB, maior aliado do PT na base governista- não afrontara só o Planalto e o movimento ambiental, que a contragosto aceitava a versão dos senadores. Comprometera, ainda, a busca de conciliação entre as vocações agrícola e conservacionista que distingue o Brasil no mundo em desenvolvimento.
A recuperação do acordo obtido no Senado torna enganoso falar em "anistia". Quem desmatou ilegalmente margens de rios, por exemplo, ficará obrigado a reconstituir a mata; só pequenos proprietários (até quatro módulos rurais) ficarão isentos de recuperar toda a faixa obrigatória de 30 m a 100 m -poderão limitar-se a algo entre 5 m e 15 m, conforme a largura do rio.
Para regularizar-se, todo agricultor terá de inscrever-se num cadastro ambiental e comprometer-se oficialmente com um plano de recuperação e um prazo de cinco anos para adequação. Se não o fizer, as multas serão reativadas e ele perderá acesso a crédito agrícola -um poderoso instrumento para coagir infratores que os deputados tinham eliminado.
De fato, foi só quando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a usar tais armas (multas e corte de crédito), ainda na gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, que os líderes ruralistas entraram em formação de guerra. Não por coincidência, foi também essa a época em que as taxas de desmatamento na Amazônia mais recuaram.
O Planalto ainda não divulgou o texto completo dos vetos, de sua justificativa e da medida provisória. Promete fazê-lo na segunda-feira. Parece certo, porém, que o país está mais perto de contar com uma legislação florestal rigorosa e também mais coerente com os extremos da realidade no campo, da agricultura familiar que produz 70% da alimentação doméstica ao pujante agronegócio exportador.
O país necessita de ambos, assim como de um basta à dilapidação de seu patrimônio natural. Que o Congresso tenha isso em mente quando apreciar os vetos e a MP.
EDITORIAIS/FOLHA DE SÃO PAULO
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