A lei da morte digna, aprovada por unanimidade pelo Senado argentino em 9 de maio, já foi posta em prática.
Em 7 de junho, depois de ter o tratamento suspendido por vontade dos pais, morreu Camila Sánchez, a garotinha de três anos que havia comovido a Argentina e se transformado na cara dessa lei.
Camila nascera em abril de 2009. Após um parto complicado, sofrera um dano cerebral irreversível e era mantida viva por aparelhos. A mãe, Selva Herbón, 37, considerava a manutenção da vida nessas condições sofrimento para a menina e para a família.
"Às vezes é preciso deixar ir. Médicos são formados para reparar, curar, mas manter a vida a qualquer custo é algo que precisa ser repensado", afirmou ela à Folha.
Selva escreveu a políticos, deu entrevistas a vários meios e estudou bioética para entender o caso da filha. Foi bastante criticada. Muito católica, diz que desejar a morte de Camila estava longe de ser um sentimento fácil. "Hoje sinto alívio, mas ao mesmo tempo estou de luto."
Mãe de uma outra menina, de oito anos, e professora de um jardim de infância, Selva diz que não crê que Camila tenha morrido em vão. "Creio que ela veio ao mundo para fazer aprovar essa lei. É preciso impedir que outros sofram tortura terapêutica."
A aplicação da lei agora é discutida em outro caso que virou uma espécie de novela na Argentina. Trata-se de Luz Milagros, dada como morta ao nascer. Ela chegou a ser enviada ao necrotério até que se percebeu que estava viva, com grave problema cerebral.
Levada a um hospital de Buenos Aires, Luz tem só 10% do cérebro em funcionamento e respira por aparelhos.
Decidiu-se retirar os medicamentos, não invadi-la e não hidratá-la, para não causar mais sofrimento. A mãe, porém, segue acreditando num "segundo milagre": "Ela já saiu da morte uma vez". (SC)
DE BUENOS AIRES
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